18 de fevereiro de 2025
NotíciasOlfato em FocoComo os cheiros influenciam nosso comportamento: a ciência por trás dos odores
Você já percebeu como um cheiro pode mudar seu humor, te deixar mais relaxado ou, ao contrário, mais alerta? Isso acontece porque os odores influenciam diretamente o cérebro e, consequentemente, nosso comportamento. Estudos em neurociência têm demonstrado como os odores impactam a regulação emocional, a cognição e o estado de vigília.
Odores e a ativação cerebral
Ao inalarmos uma fragrância, as moléculas odoríferas ativam o sistema olfativo, que está diretamente conectado ao sistema nervoso central. Essas moléculas podem atravessar a barreira hematoencefálica e interagir com neurotransmissores como serotonina, dopamina e acetilcolina, afetando o humor, a memória, a atenção e o sono.
Estudos de neuroimagem mostram que diferentes odores ativam áreas específicas do cérebro, modulando respostas fisiológicas e comportamentais. Esse conhecimento permite compreender como determinadas fragrâncias podem impactar nosso bem-estar.
Fragrâncias e seus efeitos no comportamento
Lavanda: relaxamento sem sedação
A lavanda é uma das fragrâncias mais estudadas em relação ao estado emocional e ao sono. Seus componentes, como linalol e d-limoneno, ativam a amígdala central, uma região do cérebro envolvida no controle da vigília. Diferente de um sedativo, a lavanda não desativa esse sistema, mas modula sua atividade, reduzindo a resposta ao estresse e promovendo relaxamento.
Pesquisas indicam que a exposição ao cheiro da lavanda melhora a qualidade do sono ao modular as ondas cerebrais, aumentando as ondas delta (sono profundo) e reduzindo as ondas alfa (vigília). Assim, a lavanda auxilia no relaxamento sem comprometer a prontidão ao despertar.
Jasmim: energia e bem-estar
Enquanto a lavanda atenua a resposta ao estresse, o jasmim tem efeito estimulante. Pesquisas mostram que essa fragrância aumenta a sensação de positividade e vigor, elevando a atividade das ondas beta no cérebro, associadas ao estado de alerta e concentração.
A inalação do jasmim também está relacionada a um aumento da atividade no sistema límbico, região cerebral envolvida no processamento emocional, reforçando sua associação ao bem-estar.
Alecrim: estímulo cognitivo e foco
O alecrim tem impacto significativo na cognição e na memória. Seu composto ativo, o 1,8-cineol, está associado ao aumento da acetilcolina, neurotransmissor essencial para a retenção de informações e o foco mental.
Estudos indicam que a inalação do óleo essencial de alecrim melhora o desempenho cognitivo e a velocidade de processamento mental. Esse efeito está ligado ao aumento da atividade das ondas beta, favorecendo a atenção sustentada.
Hortelã: clareza mental e revigoramento
O hortelã é amplamente conhecido por seus efeitos estimulantes e revigorantes. Pesquisas sugerem que sua inalação melhora a memória de trabalho e reduz a fadiga, aumentando a oxigenação cerebral.
A estimulação do sistema nervoso simpático pelo hortelã pode contribuir para um aumento momentâneo na sensação de energia e na capacidade de concentração, sendo útil em momentos que exigem maior desempenho cognitivo.
A ciência dos odores e seu impacto
Os odores interagem com o cérebro de três formas principais:
- Modulação de neurotransmissores: Fragrâncias podem estimular ou inibir a liberação de serotonina, dopamina e acetilcolina.
- Atividade neuromoduladora: Diferentes odores ativam regiões cerebrais específicas, influenciando atenção, relaxamento e memória.
- Efeitos fisiológicos: Algumas fragrâncias alteram o fluxo sanguíneo e a oxigenação cerebral, afetando diretamente o estado de alerta e bem-estar.
Olfato: muito além da percepção sensorial
A neurociência do olfato mostra que os odores não apenas despertam memórias e emoções, mas também influenciam processos cognitivos e fisiológicos de maneira mensurável. Esse conhecimento permite desenvolver fragrâncias que vão além do aspecto sensorial, oferecendo benefícios concretos para o bem-estar e o comportamento humano.
A conexão entre cheiro e cérebro continua sendo um campo fascinante de pesquisa. Compreender melhor esses mecanismos abre novas possibilidades para a criação de fragrâncias funcionais, seja para promover relaxamento, estimular o foco ou modular estados emocionais.
Referências
Ren YL et al. Lavender improves sleep through olfactory perception and GABAergic neurons of the central amygdala. J Ethnopharmacol, 2025.
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Herz RS. Aromatherapy facts and fictions: a scientific analysis of olfactory effects on mood, physiology and behavior. Int J Neurosci, 2009.
Kuroda K et al. Sedative effects of the jasmine tea odor and (R)-(-)-linalool on autonomic nerve activity and mood states. Eur J Appl Physiol, 2005.
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Zatorre RJ et al. Neural mechanisms involved in odor pleasantness and intensity judgments. Neuroreport, 2000.