Poluição do ar: uma ameaça silenciosa ao olfato

A poluição do ar, um problema global crescente, afeta mais do que os pulmões. Pesquisas revelam que ela ameaça diretamente um dos nossos sentidos mais importantes: o olfato.

A Organização Mundial da Saúde alerta que mais de 99% da população mundial está exposta a níveis de qualidade do ar que não atendem aos padrões recomendados. Essa exposição tem sido associada a um maior risco de diversas doenças, incluindo problemas respiratórios, cardiovasculares e até mesmo o desenvolvimento de câncer. 

Como a poluição afeta o olfato?

O sistema olfativo, localizado na cavidade nasal, é a primeira área de contato entre poluentes atmosféricos e os tecidos humanos. Neurônios olfativos, protegidos apenas por uma fina camada de muco, ficam expostos a partículas finas, como o material particulado (PM2.5), que provocam inflamações e alterações degenerativas no epitélio olfativo.

Estudos mostram que essas partículas tóxicas podem atingir o cérebro pelo nervo olfativo, atravessando até mesmo a barreira hematoencefálica. Isso resulta no acúmulo de substâncias prejudiciais, como microplásticos, no bulbo olfativo e no lobo frontal, contribuindo para danos ao sistema nervoso central.

Efeitos na função olfativa

A exposição contínua à poluição do ar está associada à perda de sensibilidade olfativa, dificuldade em identificar cheiros e até incapacidade de reconhecê-los. Populações urbanas, frequentemente expostas a altos níveis de poluentes, são mais afetadas, enquanto comunidades em áreas menos poluídas mantêm uma função olfativa superior.

Impactos ao longo da vida

Os danos são cumulativos e se agravam com o tempo, especialmente em idosos. Mesmo níveis de poluição levemente acima dos padrões da OMS podem causar perdas significativas no olfato. Além disso, estudos sugerem que essa perda sensorial está ligada ao aumento da mortalidade em idosos.

Durante a pandemia de COVID-19, os impactos da poluição foram ainda mais evidentes. Poluentes como SO2 e CO agravaram casos de perda olfativa e aumentaram a mortalidade, possivelmente enfraquecendo o sistema imunológico e facilitando a entrada do vírus.

Riscos para o cérebro

Pesquisas indicam que a exposição prolongada ao PM2.5 eleva o risco de doenças neurodegenerativas, especialmente em pessoas com predisposição genética. A composição variada da poluição dificulta a identificação de quais poluentes são mais prejudiciais, mas compostos como PM2.5, PM10, NO2 e O3 são especialmente preocupantes.

Por que devemos agir?

A poluição do ar é uma ameaça silenciosa que afeta não apenas a saúde física, mas também a qualidade de vida. Proteger o sistema olfativo exige esforços para reduzir emissões de poluentes e melhorar a qualidade do ar.

Medidas individuais e coletivas são fundamentais para minimizar os impactos, incluindo políticas públicas mais eficazes e maior conscientização sobre a importância de preservar o olfato.

Reconhecer essa ameaça e agir é essencial para proteger nosso bem-estar e garantir um futuro mais saudável para as próximas gerações.

Referências:

Oleszkiewicz A, Pozzer A, Williams J, Hummel T. Ambient air pollution undermines chemosensory sensitivity – a global perspective. Sci Rep. 2024 Dec 16;14(1):30462. doi: 10.1038/s41598-024-75067-z. 

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